sexta-feira, 1 de maio de 2009

Perfil

ENTREVISTA

Renê de Freitas Marques
(goleiro e capitão do Grêmio Recreativo Barueri)

“O Barueri não para, o Barueri luta até o fim e passa por uma semana maravilhosa de trabalho. Temos tudo para fechar com chave de ouro, o bicampeonato”

Ricardo Datrino
(ricardodatrino@yahoo.com.br)

Renê fala com exclusividade sobre o jogo de volta que irá decidir quem será o campeão do interior paulista de 2009. No jogo de ida, realizado em Campinas, a Ponte Preta venceu por 2 a 0. A equipe do Barueri precisa vencer pela diferença de dois gols para conquistar o caneco. A briga promete ser forte, mas o capitão Renê está seguro que erguerá pela segunda vez a taça. Em 2008, o Abelha já conseguiu o feito e o ‘guarda-metas’ barueriense pretende ajudar o time em partida que será disputada neste sábado, às 18h30, no estádio Arena Barueri. O jogo será apitado por Rodrigo Braghetto, que terá como auxiliares Márcio Luiz Augusto e Marcos Joel Alves. Nesta entrevista, Renê relata momentos em que teve que comer comida destinados à presos para não morrer de fome, da falta de reconhecimento ao seu trabalho, do apoio da família para superar dificuldades e como fez para driblar problemas e se tornar vitorioso profissionalmente.

O que o Barueri deve fazer para reverter a vantagem que a Ponte Preta tem de dois gols, podendo perder por até um gol de diferença?

Primeiramente fazer os dois gols de diferença e não tomar para não dificultar mais ainda a situação. Mas para fazer dois gols temos que ter a tranquilidade de fazer o primeiro. Se sairmos, desesperados acabaremos sendo surpreendidos e teremos que aumentar a vantagem depois. Nossa equipe é equilibrada, serena, já viveu numa situação dessa, e conseguiu reverter. Acho que conseguiremos mais uma vez.

A vantagem do Barueri seria o empate, mas como a equipe perdeu a partida de ida por 2 a 0 será necessário arrancar a vitória por também dois gols...

Isso. A vantagem é nossa pelo critério e tivemos numa situação parecida contra o Mirassol. Na ocasião perdemos em casa e tínhamos que fazer dois gols. Conseguimos, naquela noite inesquecível, e agora esperamos repetir, dentro de casa, o bom resultado com o apoio de nosso torcedor, para que possamos nos consagrar bicampeão.

Anteontem foi escolhido o árbitro que irá apitar a segunda final. O que você achou da decisão da Federação Paulista em escalar o árbitro Roberto Braghetto para a final?

Ontem, perguntávamos quem seria o arbitro e ficamos muito felizes de saber que é o Roberto. Ele é um baita árbitro, de muito gabarito.

Você e a equipe não têm problemas com ele?

Não temos problemas com nenhum árbitro, mas sabemos que ele é muito experiente. Esperamos que ele esteja numa tarde inspirada porque senão ele pode atrapalhar todo um trabalho. O Roberto é bem experiente. Ele é bem capaz e acredito que nem irá aparecer no jogo. Quem deve aparecer são os jogadores.

O Pedrão é a esperança do time para reverter a situação?

Pedrão é o artilheiro e sempre ajudou muito nossa equipe. Ele é um jogador fantástico que sabe finalizar muito bem. Ele em um dos jogos que disputamos teve a infelicidade de perder um pênalti, mas na verdade não digo que ele perdeu e sim que o goleiro defendeu. Ele é um cara que tem muito crédito. Acredito e falo que ele [Pedrão] tem estrela e cresce em decisões. Sábado não será diferente.

O fator casa será determinante para uma vitória?

Apesar de não ter feito uma boa campanha no campeonato paulista dentro de casa, nossas melhores campanhas foram fora, nossa equipe na hora decisiva cresce muito e, com a corda no pescoço, consegue desatar o nó e se salvar. Esperamos que agora não seja diferente. Esperamos conseguir os dois gols de vantagem e será uma partida muito difícil. Esperamos que torcedor que vá ao estádio para nos incentivar. Certamente ele verá um grande espetáculo.

Já houve um acordo da diretoria, comissão técnica e atletas sobre a divisão do prêmio de R$ 250 mil caso o Barueri consiga o título? O que será feio com o dinheiro?

O Barueri no campeonato, no começo do paulista, já tinha acordado os valores para chegar entre os quatro melhores classificados. Já havia um valor por vitórias. Esse valor será repassado a todos que participam do elenco e comissão técnica, é justo para quem trabalhou que seja feita a divisão justa.

Em entrevista que o Pedrão concedeu ao Diário da Região ele disse que a meta era ficar entre os quatro primeiros do paulista ou entre os oito para disputar a taça do interior. Esse era o objetivo do GRB neste campeonato paulista?

O objetivo era ficar entre os quatro uma vez que fomos campeões do interior no ano passado. Mantivemos uma base muito boa. Acreditávamos que podíamos ter chego. Perdemos pontos que não eram esperados. Tinham equipes que não dispunham da mesma qualidade técnica que nós, mas vacilamos. Nosso segundo objetivo foi classificar para o interior e buscar o bicampeonato. Chegamos na situação e sábado vamos ver se alcançaremos esse segundo objetivo.

Mesmo com as dificuldades e a desvantagem não podemos negar que o Barueri está próximo de conquistar a taça de campeão do interior paulista. Se o fato se concretizar, como será a sensação de levantar a taça pela segunda vez consecutiva?

É festa, é título. Não importa qual o título estamos disputando. Vale medalha, vale troféu, status e premiação. Esse é o nosso pensamento e vamos em busca disso até quando o nosso coração bater e tivermos chance. O Barueri não pára, o Barueri luta até o fim e está tendo uma semana maravilhosa de trabalho. Temos tudo para fechar com chave de ouro que é o bicampeonato.

Sabemos que é importante para um atleta a conquista de campeão do interior, mas fica um ‘gostinho’ de fracasso não ter conseguido a classificação para as fases finais do paulista?

O que eu conversei com o pessoal e o Estevan [Soares], que chegou no meio da competição, contra o Mirassol - quando fomos derrotados em casa e contra o Paulista também perdemos - é que eles [o grupo] achou que o time estava muito abaixo do rendimento. Falei com ele [Estevan] e disse a ele que o grupo estava preparado para ficar entre os quatro e não para disputar mais uma vez o torneio do interior. No entanto, conseguimos retomar o trabalho e a confiança para buscar o título e respeitar o título do interior. Lógico que pensávamos que tínhamos grandes chances de ficar entre os quatro, mas desperdiçamos as chances e sabemos que ela escapou entre os dedos. Perdemos pontos para equipes que brigaram pelo rebaixamento.

Como está sendo o seu relacionamento, como liderança do grupo, com o Estevan Soares? E o grupo, como o recebeu?

O Estevan tem o carinho de todos no grupo. Todo mundo gosta muito não só dele como do Gerson Sodré, auxiliar, o Lino, preparador físico, e do Ronaldo, preparador de goleiro. Ele abre espaço para darmos nossa opinião. É uma relação muito boa, de igualdade mesmo. Claro que a palavra final é dele, mas é uma relação sadia que tem tudo para dar certo.

Como foi o início da sua trajetória profissional? Conte um pouco.

É até engraçado. Eu estava, ontem, brincando na faculdade com colegas, no curso de marketing, sobre uma matéria que eu tive e que dizia sobre fracasso e fugas. Meu fracasso foi o meu sucesso. Eu era zagueiro e fui fazer um teste no Bragantino. No ônibus, na ida do caminho, o comentário era que quem era zagueiro estava praticamente fora da peneira e isso porque a zaga na época era da seleção brasileira. Eram atletas da categoria de base e os dois zagueiros eram do Bragantino. Chegou um momento em que o pessoal chamou os jogadores e perguntou: “Quem é o René”. Ninguém falou nada aí eu disse: “Sou eu”. O treinador do Bragantino perguntou: “Você é goleiro ou zagueiro?”. Não ia falar que eu era zagueiro nunca, falei que era goleiro (risos). Foi aí que veio a minha fuga. Ele [treinador] disse que os goleiros deviam ir para outro lado (risos) e fui. Eu estava sem uniforme de goleiro e sem nada. Entre 200, passaram apenas seis atletas, dentre eles, eu. Consegui pela estatura e postura. No Bragantino, mandaram retornar depois de um tempo. Voltei para São Paulo, num time amador onde treinava e disse que, a partir daquela data, em que passei no teste, eu devia ser goleiro. Fui aprendendo e aprendendo até que tive condições de chegar ao Araçatuba, o AIA. Depois de seis meses o São Paulo acabou me comprando como goleiro e estou aí ate hoje, vivendo o meu melhor momento.

Você acredita que o Barueri tem chances de chegar às finais do Brasileiro?

Nossa equipe está mantendo uma boa base e estão vindo reforços bons e de qualidade.

Recentemente chegou o André Luís...

Isso. O André Luís, Xandão, e outros também estão vindo. Temos grandes chances de surpreender neste brasileiro. Será o primeiro ano do Barueri. É um ano onde temos que nos adaptar porque a série A é muito difícil e diferente. Temos que ter a humildade de reconhecer que há também mais de 19 adversários de muita qualidade e que eles vão respeitar a nossa equipe que conquistou, em oito anos, muitas vitórias e conquistas. É difícil ver uma equipe assim. Nossa meta é buscar a vaga na copa sul-americana.

Foram metas traçadas...

Isso já está bem definido. Já foi acordado na reapresentação dos atletas no início do ano. Em conversas com o Walter [Jorqueira Sanches] presidente do Barueri e a diretoria toda. Foram traçadas metas para o Paulista e o Brasileiro. O projeto, em 2009, é ficar entre os doze melhores classificados. Ficando entre os doze, estamos praticamente fora da zona de rebaixamento. Com isso, estaremos também beliscando uma vaga na sul-americana.

Em 2008, você ganhou o prêmio de melhor goleiro da Série B do Brasileirão. Para repetir a dose o que você irá fazer? Qual fundamento ainda pode ser melhorado?

Depois do prêmio que recebi, comecei a ficar mais conhecido nacionalmente e a cobrança aumentou. Estou trabalhando dobrado e, desde janeiro, estou me aprimorando não só para esse ano. Estou no momento ideal para começar a série A. Me preparei não somente esse ano para a competição, mas como em toda minha carreira para todas. Disputei apenas uma série A, que foi no ano de 2007, pelo América de Natal, mas disputei somente o primeiro turno. Era uma equipe montada às pressas. Agora se trata de uma oportunidade única de, com 31 anos, conseguir me consagrar. Estou trabalhando bastante para poder ajudar o Barueri e, assim, consequentemente estarei ganhando destaque no país.


Há quanto tempo você não se contunde?

Sem lesão e sem parar de jogar?

Isso. Você parece ser um atleta que se lesiona muito pouco...

Sem lesão estou desde 1996, quando joguei no São Paulo.

Dos goleiros brasileiros em atividade pelo que me recordo você é um dos que mais atuam com regularidade e constância...

Fiquei de fora apenas contra o Juventude - atuando pelo Barueri no brasileiro do ano passado-, porque forcei o terceiro cartão. Contra o Paulista, agora, fiquei de fora porque eu estava pendurado e o Estevan até pediu para que eu ficasse de fora para poder tomar o terceiro cartão e chegar nas fases decisivas da taça do interior com a contagem de cartões amarelos zerada.

Você já teve alguma lesão grave?

Não. Tive uma torção no começo do segundo turno do paulista. Tive uma torção de grau três, para ficar de fora, mas prometi a mim que precisava aguentar. Continuei treinando direto e fazendo os tratamentos. Estou curado, mas desde de 1996 atuo sem lesão alguma.

A briga este ano com o Felipe, do Corinthians, será maior para conquistar o prêmio de goleiro menos vazado do brasileiro ou existem outros melhores na sua visão?

Temos grandes goleiros. Os 20 melhores estarão no Brasileiro para ganhar o prêmio. Não será uma disputa somente contra ele [Felipe], mas contra Marcos, Rogério, Vitor, do Grêmio, enfim, grandes goleiros. O Brasil está bem servido de goleiros; sei que vou fazer um grande trabalho e não vou decepcionar.

Você falou que saiu das categorias de base do São Paulo (sub-20). Faltou apoio da diretoria ou financeiro para permanecer em uma equipe grande? O que aconteceu que você saiu?

Em 1996, na época, o Zetti e o Rogério ainda jogavam e tinha outros dois bons goleiros. Eu estava na categoria juniores quando apareceu a oportunidade de jogar no campeonato paranaense, pelo Londrina, em 1997. Eu tinha notado essa oportunidade e o time de Londrina tinha sido recentemente campeão paranaense. Era, na época, a quarta maior força do Paraná, do interior. A equipe de Londrina pediu cinco jogadores emprestados ao São Paulo e eu acabei indo para lá.

Foi uma decisão sua?

Foi uma decisão minha. Pedi para que eles [São Paulo] me emprestassem e era uma oportunidade de aparecer. Foi uma escolha fracassada porque fiquei três meses sem receber. Foi uma equipe que prometeu fundos e mundos, mas não cumpriu o contrato.

E até hoje eles não te pagaram...

Já recebi uma parte do dinheiro porque entrei na justiça, mas ela vai e volta. Deus me deu em dobro o que eles [Londrina] tentaram me tirar. A partir daí, comecei a rodar. Goleiro não pode ficar parado, tem que estar sempre jogando porque senão não aparece. Até que pareceu a oportunidade de eu ir para o Mirassol, dez anos depois, em 2007. Fui o goleiro menos vazado do campeonato paulista da A2. Fui também o goleiro menos vazado de toda história do campeonato paulista. Trabalhei no América (RN), onde tive a oportunidade de disputar a série A, no primeiro turno, e apareci bem. Depois, fui para o Gama (DF), ainda em 2007, para jogar a série B, em Brasília. Pouco tempo depois, o Barueri viu minhas atuações e acabou me contratando.

Hoje você já imaginou que poderia ser o reserva imediato do Rogério Ceni ou até mesmo ser o titular da equipe tricolor uma vez que ele está machucado? Isso causa frustração? Em algum momento você pensou nessa hipótese ou você está tão bem no Barueri que não cogita a idéia de atuar em equipes como Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Santos?

Se eu tivesse esperando, hoje seriam 13 anos de espera. O Rogério é um goleiro que não dá brecha para o reserva [Bosco]. Apenas com a contusão a oportunidade apareceu para o Bosco. Hoje, estou muito bem instalado em Barueri. Tenho um respeito enorme e muitos clubes sabem quem é o goleiro do Barueri. Hoje, depois de 13 anos, já tive até especulação de que eles [São Paulo] estavam de olho para me levar de volta, mas é somente especulação e não há nada de concreto. Estou muito bem no Barueri, mas ainda sonho sim com um grande clube. Tenho duas opções: fazer do Barueri um clube grande ou trabalhar num grande clube para que ele faça parte do meu curriculum profissional e de carreira. Sonho e busco isso. Tento fazer meu trabalho, realizar grandes jogos e partidas, tendo em vista a pessoa que sou e fazendo com que os outros me enxerguem bem. Talvez dessa forma um grande clube irá despertar um dia o interesse em me levar ou então farei do Barueri um grande clube.





Você citou o desejo de jogar em um grande clube e essa será uma das metas a serem atingidas na sua carreira. Há preferência de vestir a camisa de algum grande time da capital paulista? Alguém cogitou seu nome além de ‘extra-oficialmente’ terem dito que o São Paulo voltou a procurá-lo? Há algo latente, um gosto?

Gosto eu tenho por um grande clube, um grande salário, para dar algo melhor para minha esposa e minhas filhas (risos). Isso daria uma vida melhor a minha família. Essa questão de gosto até tenho, mas é meio antiético falar. Minha maior realização era fazer parte da história do Barueri e fazer com que nos tornássemos um grande clube. Para mim isso seria muito bom de se realizar.

Existem muitos boatos e fofocas no futebol. O que pode ser desmentido sobre o Renê? Alguma fraca especulação? Sobre transferência para clubes grandes, existe alguma coisa concreta?

Tive propostas do Botafogo (RJ), Atlético Mineiro, e já teve a sondagem do São Paulo, mas até agora não tive nada que me tirasse do Barueri e que me desse uma condição melhor do que o clube me dá atualmente. Estou muito feliz no Barueri e muito grato.

Você tem algumas coisas em comum com o goleiro são-paulino, como: o fato de ambos terem um belo retrospecto pelos clubes onde passaram. Você chegou a conhecer o Rogério? Como era o relacionamento entre vocês? E com o Zetti que era o goleiro titular?

O Zetti é um exemplo a ser seguido, um cara de caráter fantástico. Falo em caráter porque o goleiro tem que ter um bom. Ele deve ser querido pelos jogadores e comissão técnica. Tento me espelhar no Zetti, mas o Rogério não é diferente. A liderança dele é fantástica. No jogo das finais, após a contusão dele no paulista, o São Paulo distribuiu faixas de capitão para a torcida inteira e isso se deve ao respeito que ele tem dentro do Morumbi e junto à coletividade. Treinei com o Rogério poucas vezes porque eu fazia parte da categoria juvenil, mas, uma vez por semana, treinávamos com os profissionais. Tive oportunidade de conhecer mais de perto o Zetti mesmo. Eu cuidava da chuteria que o Zetti usava e tenho até hoje chuteira dele. Para mim, ele foi um cara excepcional debaixo da trave e fora de campo também; ele é uma grande pessoa. Já o enfrentei como treinador adversário e até comentarista.

Você gostaria de ser um dia comandado pelo Zetti?

Gostaria muito de ser comandado por ele. Colegas que trabalharam com ele falam muito bem. Como goleiro ele já comandava uma equipe e hoje continua no comando. Independente das funções, muitos dizem que ele é a mesma pessoa. Tenho muita vontade de trabalhar com ele. Sei que ainda vamos trabalhar juntos porque ele ainda deve chegar num grande clube e é merecedor disso. Sobre o Rogério, jogamos como adversários, mas sempre conversamos um pouco. Somos capitães em nossas equipes e batemos um papo na hora da escolha de campo ou da moeda. Tive a oportunidade de conversar um pouco com ele na Internet também. Ele é um cara que se espelha muito no Zetti. Se você olhar para ele, Rogério, se lembra um pouco do Zetti.

Falando em liderança e do posto de capitão do time, isso faz pensar que você deve trilhar uma carreira semelhante ao do Zetti. Você já pensou, no futuro, em seguir a carreira de treinador?

Na verdade estou cursando marketing para trabalhar na parte burocrática do futebol. Há muitas coisas a serem exploradas ainda. Muitos falam que tenho o perfil para ser treinador ou auxiliar técnico, mas tenho que me preparar para várias coisas e para ver onde poderei me encaixar depois que encerrar a carreira. Penso muito nisso e estou me preparando para esse momento. Penso até em ser, talvez, um dirigente.

Com críticas agudas à defesa do time, como o elenco tem reagido à contratação do zagueiro André Luís que jogou em clubes como Santos e Olympique de Marseille? O que você achou da contratação?

Ele vai ajudar muito e está recuperando a forma. Ele tem tempo para isso. Estamos indo para Itu para início da temporada. Precisamos estar na ponta dos cascos do Brasileiro e ele tem tudo para ser muito útil para o grupo. Quanto ao fato da defesa receber críticas, conversamos, dentro da equipe, e chegamos a conclusão de que o Barueri é uma equipe muito ofensiva. Apesar de ter tomado muitos gols, a equipe é uma das que mais fez também. Isso acaba deixando a defesa mais exposta e desprotegida. Ela ataca com seis atletas e defende com quatro mais o goleiro. Tanto é que jogos como: 5 a 3 e 4 a 2 mostram a ofensividade do Barueri. Para fazer bastante gols, acabamos nos expondo lá atrás na zaga. O Castan, Daniel e Ralf, que estão jogando atrás, na minha opinião, estão muito bem e fazendo um grande papel. Às vezes os números dão uma brecha para falar que a defesa bate cabeça, mas dentro de campo os jogadores estão fazendo um grande trabalho. Quem está chegando está fazendo um grande trabalho e cabe a comissão técnica resolver quem vai jogar, mas estou muito satisfeito com a zaga.






Qual a diferença de vestir a camisa do G.R.B para clubes como o Juventus, da Mooca, e o Gama (DF)?

Costumo vestir a camisa da equipe que estou e procuro não só defender no dia do jogo, mas ajudar em outras coisas meus companheiros. Quando você chega para treinar e o companheiro está cabisbaixo, você precisa absorver aquilo para levantá-lo. Estive no Juventus e não tive muita oportunidade de ser titular, mas trabalhei forte tentando buscar uma brecha. Havia lá bons goleiros atuando. No Gama vesti a camisa e chegou um momento em que brigamos para estar entre os quatro primeiros da série A2. Pedimos até para ficar alguns dias a mais e nos fechamos mesmo para concentração. Em outras equipes não é diferente e no Barueri também não. Faço tudo para transformar a equipe num grande clube, e como? Sempre tentando aconselhar meus companheiros que o melhor clube para nós é o Barueri. O clube é aquele que nos paga, nos coloca em evidência e que dá estrutura familiar. O Barueri é uma equipe muito fantástica de se trabalhar. No Barueri é só pensar em trabalhar e jogar porque eles nos dão tudo. É uma estrutura diferenciada. Sei que eles procuram acompanhar os moldes do São Paulo, que é referência. O Barueri te dá o prazer de realmente vestir a camisa. É assim que eu penso e falo.

Em quem você se espelha na sua profissão?

Me espelho no Taffarel pela frieza dele. Já o vi tomar gol, ser vaidado, e aplaudido no final de um jogo. A frieza dele de pular pouco na bola e estar sempre bem colocado me fascina. Vejo minha carreira voltada ao perfil dele e do Dida. Procuro mesclar um pouco de cada estilo para ser o Renê, mas que seja um pouquinho de cada. Me espelho em goleiros que conseguem reverter a situação de vilão a herói na mesma partida. Acho isso fantástico.

Quem foi o maior que você já viu atuar?

Taffarel para mim é o melhor. Lembro de uma festa comemorativa que houve entre os goleiros e eu o conhecia, mas eu achava que ele não...

Quem estava nessa festa?

Estavam somente goleiros. Estava o Ronaldo, ex-Corinthians, e todo eles. Quando fui cumprimentá-lo [Taffarel] e estiquei a mão, ele já me chamou pelo nome e eu me arrepiei todo porque vi que ele acompanhava o meu trabalho e o do pessoal que estava ali presente. Ali mesmo ele me parabenizou pela trajetória de 2008. A minha maior conquista no futebol foi quando estiquei a mão para cumprimentar o Taffarel e ele me chamou pelo nome.

Seu contrato com o clube vai até o final de 2009, certo? Já pintou interesse de algum clube em adquirir seu passe ou o G.R.B. está cuidando da renovação?

Sobre a renovação ainda não há uma conversa, mas sei que o Barueri tem muito respeito por mim e vai me chamar para conversar. As especulações existem e o Barueri sabe. Não há como esconder pelo trabalho que venho fazendo e uma hora algo aparece. O mercado brasileiro de goleiro é muito bom, há propostas, mas tenho muito carinho e sou muito grato pelo Barueri. Vou fazer de tudo para ficar aqui, desde que tenha reconhecimento de ambas as partes.

Como a maioria dos atletas de alto nível, você vem de clubes menores. Como tem sido o garimpo de goleiros nas várzeas? Como o René avalia a situação de garotos nessas condições? Você acompanha?

Acompanho e vou assistir aos treinamentos dos times de base. Vejo o pessoal jogando futebol amador e dou dicas. Já passei por isso e chegou minha vez de retribuir. Vejo que a escola de goleiros no Brasil daqui a cinco anos não terá igual. O goleiro mais técnico do mundo é o brasileiro.

A imprensa já tem atentado para isso, sobre a formação e núcleos de goleiro consistentes e especializados. Existia, em tempos passados uma defasagem nesse setor, mas parece que agora há um crescente aperfeiçoamento dos profissionais...

O pessoal está sabendo trabalhar o goleiro jovem e lapidar seus talentos. Hoje não tem mais aquelas peripécias de dar cambalhotas e um monte de coisas que não acontecem num jogo. Está sendo trabalhado, principalmente, o caráter do goleiro que é diferente. Ele deve ter uma personalidade muito forte, ser leal e franco. Se ele for equilibrado, a chance dele sair na frente é enorme. Passo muito isso para os goleiros novos, de que eles não podem ser ‘boleirões’. Eles não podem se empolgar facilmente. O tombo deles está no próximo chute. Eles precisam buscar o equilíbrio e não ficarem pensando no que já passou. Ele [goleiro] não pode ficar pensando numa falha porque senão não consegue recuperar na frente. É isso que o Taffarel e o Dida me chamam a atenção. É esse o equilíbrio que hoje procuro ter. Tive a felicidade de ver esses goleiros jogando e hoje tento ser pé-no-chão e não me empolgar com o momento.



Você gostaria de acrescentar mais alguma informação, deixar algum recado?

Quero dizer que o atleta não pode desistir nunca. Aos 29 anos eu estava jogando no campeonato goiano e fui despejado numa praça. Fiquei dois dias dormindo na praça porque o time me deixou ser despejado do hotel. Sem ter o que comer pedi comida na prefeitura e eles me mandavam marmitex vindos do presídio. Não quero desmerecer a comida dos detentos, mas não é uma alimentação de base sustentável para um atleta. Não desisti e aos 29 anos estava nessa situação. Em 2007 minha vida mudou porque não desisti. Já tinha meus filhos e todos falavam para eu parar de jogar. “Olha que situação você está passando”. Não desisti e tive uma família muito forte que me ajudou muito e que é a base da minha vida (que são minha esposa, filhos, pai e mãe). Não desisti e o que Deus me proporcionou hoje é enorme. Tenho hoje uma vida equilibrada e posso dar o melhor para os meus filhos. Quem não desistir vai chegar porque Deus não desampara e dá chances. Quando Ele der aproveite, mas não deixe o sucesso subir à cabeça. Você deve ser pé-no-chão porque você sabe das dificuldades enfrentadas no passado. Deixo esse recado: não desista. Carrego no peito uma tatuagem que é inclusive uma frase do hino nacional: “Verás que um filho teu não foge à luta”. Não fugi e não fugirei jamais.

O áudio da entrevista pode ser ouvido no formato podcast no site: http://www.webdiario.com.br/













É possível também fazer o download do arquivo.

Nenhum comentário: