Neste momento, 'tiro os livros da estante' e procuro limpá-los com muito carinho para produzir conteúdos e reflexões junto, especialmente, aos amigos e estudantes.
Tomo a decisão porque nesta manhã (25/05/2016), véspera de feriado, recebo uma ligação carinhosa da "Editora do Brasil", que está produzindo um livro didático intitulado "Projeto Apoema Leitura e Produção de Texto 9º ano", tendo como autores, Cláudia Miranda e Edson Munk, com tiragem de 30 mil exemplares, sob os formatos impresso e digital (site + tablet), por um período de 4 (quatro) anos, a contar da data da publicação. Obrigado e bom proveito da produção!
O texto abaixo é ainda uma produção de resenha dos tempos de faculdade de jornalismo. De lá para cá muita coisa mudou, mas a experiência relatada nos livros resgata a importância da memória e da história social vivenciada em nosso País.
Segue abaixo texto da época (2007):
Zuzu Angel: Uma visão sensível sobre o período
Ricardo Datrino
Filme dirigido por Sérgio Rezende, Zuzu Angel é uma cinebiografia de uma estilista que impulsionou a fama do Brasil na moda internacional. O filme mostra o drama vivido pela estilista mineira (Patrícia Pillar), cujo filho, Stuart Edgard Angel Jones (Daniel de Oliveira), desapareceu durante a Ditadura Militar, nos anos 70, envolvido com a guerrilha que combatia o sistema, Stuart Angel foi preso em 14 de maio de 1971 pelos agentes do Centro de Informação da Aeronáutica.
O filme é conduzido de forma a lembrar em alguns momentos a linguagem televisiva. A atriz consegue passar ao espectador de forma clara o drama vivido pela personagem que, no início do filme, começa a ter reconhecimento profissional – coisa rara para uma mulher naquela época – não somente no Brasil, mas internacionalmente também. Essa passagem, de mulher bem-sucedida à mãe desesperada, acontece de forma sutil e emocionante ao longo do filme devido à boa atuação de Patrícia Pillar.
No período da ditadura, enquanto Zuzu Angel tornava-se sinônimo de moda brasileira, Stuart envolvia-se cada vez mais nos movimentos estudantis contra a ditadura. As mulheres davam seus primeiros passos de individualidade e ela foi um grande exemplo: separada do marido, sustentou seus três filhos exportando moda brasileira. A estilista foi pioneira em usar elementos tipicamente brasileiros, como a chita, em seus figurinos.
A falta de notícias do filho Stuart, que lutava pela revolução socialista ao lado da mulher Sônia Angel (Leandra Leal), preocupava Zuzu. Tal preocupação culmina no dia em que recebe um telefonema de um desconhecido, que dizia que Paulo (como Stuart era conhecido no movimento) estava preso.
A estilista parte no meio da noite em busca do filho nos quartéis do Rio de Janeiro, mas ele é dado como desaparecido político pelo Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica - CISA. A intuição de mãe lhe diz que tudo é uma farsa, que os agentes estão mentindo para ela.
Sendo assim, conta com a ajuda de suas amigas e do advogado Fraga (Alexandre Borges), que sempre esteve ao seu lado, em busca de uma solução para o desaparecimento de seu filho.
Zuzu descobre que Stuart foi preso, torturado e morto. Abalada, deseja velar e enterrar o filho, mas o corpo não é encontrado. Apela também ao senador norte-americano Edward Kennedy que, por sua vez, leva o caso ao Congresso dos Estados Unidos.
Zuzu Angel tem uma técnica harmoniosa que prende o telespectador do início ao fim da trama, sem precisar apelar para a violência desmedida. O resultado está na boa interpretação da atriz Patrícia Pillar que demonstra alta capacidade interpretativa.
A trilha sonora de Cristóvão Bastos envolve e traz o telespectador para dentro do filme, na medida certa, e a fotografia, a produção e direção interagem em sintonia.
Zuzu Angel é um filme forte e, ao mesmo tempo, delicado, pois fala do direito à liberdade e, principalmente, dos bastidores da ditadura militar. A cinebiografia não retrata o momento de sucesso da vida da estilista, e sim a luta de uma mãe pelo corpo de seu filho - sendo, posteriormente, declarado como desaparecido político.
O filme Zuzu Angel se transforma numa importante peça histórica que lembra um tempo em que as pessoas eram perseguidas por defenderem seus ideais. A luta de Zuzu Angel foi semelhante à de muitas outras mães que também perderam os seus filhos nos porões da ditadura militar brasileira; a diferença é que Angel tinha os meios – e os contatos – disponíveis para conseguir ser ouvida.
Em 14 de abril de 1976, o corpo de Zuzu Angel foi encontrado na saída do Túnel Dois Irmãos na Estrada da Gávea, no Rio de Janeiro. A causa de sua morte foi dada como acidental, sendo reconhecida como assassinato somente nos anos 90.
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