A Festa Literária é um evento multifacetado. Em meio a inúmeros transeuntes, um Artista brilha. No anonimato, à margem do evento, quase desapercebido pelos turistas sua participação é fundamental e sua atuação é tão precisa que delineia a geografia das ruas da bela cidade de Parati. Seus movimentos singelos, simples, olhar baixo, de uma pessoa que já viu muitas coisas, envergonhado, cabelos brancos, mãos calejadas, cheias de esparadrapo, pelo árduo serviço artístico, são algumas características físicas do Artista.
Sapatos sujos por uma camada rasa de pó, camisa suada e calçados levemente furados, ele nos diz que há muitas horas está trabalhando, mais ou menos quatro. São oito horas. O modo de falar lembra a simplicidade do Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato. Ao mesmo tempo em que o Artista é experiente pela vivência é paradoxalmente juvenil no que tange ao conhecimento escolástico. Baixa escolaridade não é problema quando o espírito do Artista é grande. Ele compreende que seu trabalho é colaborar para que a festa esteja “organizadinha”.
- Artista! Não é um trabalho muito duro?
- Não é não senhor, fica tudo muito lindo, a gente tem prazer de trabalhar perto da praia e ver as pessoas contentes.
E quem não acha que ele tem razão? Trabalhar tendo ao redor uma paisagem paradisíaca como a de Parati, com praias, um centro histórico belíssimo e conservado, que abriga muita riqueza cultural é para de fato ninguém reclamar, tendo em mente os problemas da conurbação. Neste período de festa, passa-se a respirar literatura, uma diversidade cultural e que confronta pontos de vistas plurais, discussões complexas e pertinentes, mas Artista pouco conhece sobre isso. Ainda assim sem saber ele participa desse núcleo que tende a marginalizá-lo. E é por isso que o admiramos, ele trabalha, rala e poucos o vêem, mas mesmo assim ele insiste em sobreviver com sua obra.
Esta cidade é com certeza um lugar em que muitos gostariam de trabalhar, se obviamente fossem reconhecidos. Reconhecidos? Há um provérbio na filosofia que diz que as pessoas só se mantém vivas pelo impulso do reconhecimento observado da sociedade. Mas se o Artista não tem esse prestígio, o que o leva a querer viver sem o reconhecido da sua sociedade?
O olhar acurado do Artista nos deixa a resposta. Não é preciso haver reconhecimento, apenas continue a fazer o que acha que deve fazer e alguém um dia, talvez, notará seu trabalho. Há pessoas, por exemplo, que só tem reconhecimento em vida póstuma. Não é preciso esperar a morte para a redenção, mas atentar para as simples ações do cotidiano e das relações humanas já dignificam o modo de viver.
Ao observarmos o Artista, dependemos do referencial ao qual olhamos; para muitos de nós, ele é apenas mais um elemento pertencente a engrenagem da máquina harmônica da sociedade, o trabalho. Marx dizia que o trabalho é um mecanismo que insere o indivíduo na coletividade e o faz dar sentido à vida tirando-o de um dos processos de alienação.
O simples trabalho do Artista o faz sentir-se útil, e ele é, ao desconstruir a idéia do alienado social. Não é necessário fazer grandes realizações ou tecer discussões profundas. Varrer a calçada da rua ou a da nossa casa, já é a grande obra do Varredor, Funcionário público e Cidadão: Ronaldo Artista Nogueira.
Sapatos sujos por uma camada rasa de pó, camisa suada e calçados levemente furados, ele nos diz que há muitas horas está trabalhando, mais ou menos quatro. São oito horas. O modo de falar lembra a simplicidade do Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato. Ao mesmo tempo em que o Artista é experiente pela vivência é paradoxalmente juvenil no que tange ao conhecimento escolástico. Baixa escolaridade não é problema quando o espírito do Artista é grande. Ele compreende que seu trabalho é colaborar para que a festa esteja “organizadinha”.
- Artista! Não é um trabalho muito duro?
- Não é não senhor, fica tudo muito lindo, a gente tem prazer de trabalhar perto da praia e ver as pessoas contentes.
E quem não acha que ele tem razão? Trabalhar tendo ao redor uma paisagem paradisíaca como a de Parati, com praias, um centro histórico belíssimo e conservado, que abriga muita riqueza cultural é para de fato ninguém reclamar, tendo em mente os problemas da conurbação. Neste período de festa, passa-se a respirar literatura, uma diversidade cultural e que confronta pontos de vistas plurais, discussões complexas e pertinentes, mas Artista pouco conhece sobre isso. Ainda assim sem saber ele participa desse núcleo que tende a marginalizá-lo. E é por isso que o admiramos, ele trabalha, rala e poucos o vêem, mas mesmo assim ele insiste em sobreviver com sua obra.
Esta cidade é com certeza um lugar em que muitos gostariam de trabalhar, se obviamente fossem reconhecidos. Reconhecidos? Há um provérbio na filosofia que diz que as pessoas só se mantém vivas pelo impulso do reconhecimento observado da sociedade. Mas se o Artista não tem esse prestígio, o que o leva a querer viver sem o reconhecido da sua sociedade?
O olhar acurado do Artista nos deixa a resposta. Não é preciso haver reconhecimento, apenas continue a fazer o que acha que deve fazer e alguém um dia, talvez, notará seu trabalho. Há pessoas, por exemplo, que só tem reconhecimento em vida póstuma. Não é preciso esperar a morte para a redenção, mas atentar para as simples ações do cotidiano e das relações humanas já dignificam o modo de viver.
Ao observarmos o Artista, dependemos do referencial ao qual olhamos; para muitos de nós, ele é apenas mais um elemento pertencente a engrenagem da máquina harmônica da sociedade, o trabalho. Marx dizia que o trabalho é um mecanismo que insere o indivíduo na coletividade e o faz dar sentido à vida tirando-o de um dos processos de alienação.
O simples trabalho do Artista o faz sentir-se útil, e ele é, ao desconstruir a idéia do alienado social. Não é necessário fazer grandes realizações ou tecer discussões profundas. Varrer a calçada da rua ou a da nossa casa, já é a grande obra do Varredor, Funcionário público e Cidadão: Ronaldo Artista Nogueira.